Sporting tem tudo para continuar a correr!
Terminou a época futebolística 2023/2024 para os clubes (oxalá termine bem dentro de um mês para a nossa Seleção!). O sucesso alcançado pelo Sporting orientado por Rúben Amorim, campeão nacional pela segunda vez em 4 anos, veio mostrar que o título de 2020/2021 não foi nem obra do acaso nem fruto da pandemia.
Pareceu-me, por isso, oportuno escrever este texto, em que dou a conhecer o que, desde o início de 2020, pensei (e penso…) sobre a vinda de Rúben Amorim (RA) para Alvalade e de como ela se revelou estruturalmente fundamental para o Sporting.
5 de março, 2020. Conferência de imprensa de apresentação de RA em Alvalade. Perguntam-lhe: «E se corre mal?». A resposta é de todos conhecida: «E se corre bem?» Tudo ficou aqui dito. Nesta postura, nesta forma de comunicar.
Recuemos até 27 de dezembro, 2019. RA é escolhido para suceder a Ricardo Sá Pinto no comando do futebol do SC Braga. Orientou a equipa em 13 partidas (11 na Liga, tendo vencido 10 e empatado uma) até ter sido contratado pelo Sporting.
Vi o primeiro jogo do SC Braga com RA ao leme em meados de janeiro, 2020, e logo me chamou a atenção a forma como orientava a equipa, se movimentava no banco, comunicava com os jogadores.
Alguns jogos depois, sem que soubesse bem explicar porquê, dei por mim a pensar: era este o treinador que eu queria em Alvalade. Era um feeling. Fazia-me lembrar o José Mourinho do início da sua carreira como técnico principal, o que limpou Portugal e a Europa com o FC Porto, e que, antes disso, desgraçadamente, chegou a ter contrato assinado com o Sporting e acabou por não vir (mas RA com uma atitude mais construtiva e positiva).
Nesta altura, os tempos eram bastante conturbados no Sporting: depois da agitada saída de Bruno de Carvalho em meados de 2018, Frederico Varandas foi eleito Presidente em setembro desse ano e desde o início que a gestão do futebol profissional masculino, verdadeiro meio impulsionador da vida e do estado de alma do clube, tinha deixado muito a desejar: os treinadores sucederam-se (a José Peseiro sucederam Tiago Fernandes, Marcel Keizer, Leonel Pontes e Silas no espaço de pouco mais de um ano, até à opção por RA), a qualidade do futebol era, em geral, fraca (apesar da conquista, por Marcel Keizer, da Taça da Liga e da Taça de Portugal), o estado de alma dos sportinguistas não era famoso.
Quando dei por mim a pensar que o RA é que era, na verdade mais não era que um sonho, porque sabia que a cláusula de rescisão era alta (€10 milhões) e porque achei que o SC Braga, em face de tudo o que íamos vendo, não o quisesse mesmo deixar sair.
Sabendo das origens benfiquistas de RA, nem me atrevi a comentar com os meus amigos sportinguistas, todos bastante tristes com a realidade do futebol do clube, o que pensava – até porque, lá está, para mim, estava longe, muito longe, de se tornar uma realidade.
Chegamos a 4 de março, 2020. Logo de manhã, a comunicação social faz eco de que a possibilidade de RA vir para o Sporting é bastante real. Não queria acreditar – mas de satisfação. Nas tertúlias e grupos de reflexão online do Sporting em que participo, começaram os protestos, as críticas a todo este processo. Creio que fui o único a mostrar recetividade, alegria, pelo que estava prestes a acontecer. Recebi várias manifestações de desagrado; o que iria acontecer era uma loucura. Grotesco, até, segundo alguns. Expliquei que… não sabia explicar, que era um feeling que tinha, mas que apoiava totalmente a contratação de RA. Sim, eram €10 milhões, mas achava que ia valer a pena (alguns só por serem meus amigos não me insultaram na altura…).
O resto é história – sabe-se o que aconteceu. Tem corrido bem! RA tornou-se o verdadeiro rosto do Sporting, um Sporting com títulos – e ainda bem. Mas isso não impede que, não tendo eu estado com Frederico Varandas nem em 2018, nem em 2022 (estive com José Maria Ricciardi e, depois, com Ricardo Oliveira), não ache que esta decisão, o chamado all in, tivesse sido o que não só salvou o seu mandato, como tem sido o grande fator distintivo, pela positiva, do Sporting. O seu verdadeiro seguro de vida. Também, segundo se soube numa entrevista que concedeu recentemente, porque teve um feeling que RA é que era (embora as seus feelings anteriores não tivessem corrido nada bem…).
Numa altura em que os principais rivais passam por fases, digamos, mais complexas, por razões diferentes, a manutenção de RA no Sporting, como acho que deve acontecer, por muito tempo, pode mesmo assegurar um período de hegemonia no nosso futebol que há décadas não acontece. Por mim, era pôr-lhe à frente um contrato vitalício para assinar. Teríamos muita sorte se RA se tornasse no Alex Ferguson do Sporting.