Diz que lhe lixei mil euros: Artur Soares Dias revela história de um Benfica – Sporting
Artur Soares Dias marcou presença no primeiro Dia do Delegado da ANDF, moderado por Sérgio Krithinas, diretor executivo de Record. O agora ex árbitro lembrou que quando começou, em 1996, não havia delegados e que passou “momentos menos bons nos túneis”, mas frisou que hoje estes agentes são como “anjos da guarda”: “É muito por causa deles que já não se vê tanto os árbitros contra o mundo.” Considera, ainda assim, que, num contexto internacional, há vários países onde os delegados, especialmente em jogos como Benfica-Sporting, são vistos de forma mais soberana do que outros. Sobre as divergências entre delegados e árbitros, Soares Dias usou como exemplo a expressão “debaixo da porta a pessoa está dentro ou fora?” para afirmar que ainda existe um caminho pela frente. “Se andarmos sempre a passar multas, como em alguns jogos entre Benfica e Sporting, não haverá diminuição de ruído”, exemplificou.
Em tom animado, recordou a história de uma multa de 1.000 euros num Benfica – Sporting, atribuída a um agente desportivo e embaixador da Liga que é… seu amigo. “Ele entrou no meu balneário para me dar os parabéns por ter gerido bem um jogo difícil entre Benfica e Sporting, mas quando passaram o texto do relatório para fora tiveram uma interpretação diferente e multaram-no em 1.000 euros. Ainda hoje me diz que lhe lixei 1.000 euros!”, lembra. Ainda sublinhou, em tema paralelo sobre ofertas de dirigentes a árbitros, que nunca deixou de receber o ‘Kit Eusébio’, lembrando que deve haver uma “relação saudável entre todos”, especialmente em contextos de rivalidade como o dérbi de Lisboa.
José Miguel Sampaio e Nora, entre várias intervenções sobre o reforço da importância do delegado em jogos como o Benfica – Sporting, considera que este “deve ser mais ouvido” no processo regulamentar da Liga, porque “estas são as pessoas que representam a Liga no campo”. Tocou também no aspeto das multas, várias vezes nomeado no debate. “As multas têm crescido imenso nos últimos anos. A Liga tem criado várias linhas vermelhas e não é admissível serem ultrapassadas”, referiu, lembrando que a lei deve ser revista em função da percentagem do vencimento dos agentes desportivos para haver justiça na atribuição das multas. “A proporção resolvia o problema”, concordou o ex juiz.
Enaltecendo a evolução e reconhecimento do papel do delegado, Sampaio e Nora frisou também que um delegado deve sempre escrever “sobre o que vê e não o que ouviu dizer”. O advogado lembrou a história de uma delegada, em Portugal, que foi determinante num episódio de um jogo entre Sporting e outra equipa em que houve um suplente utilizado que não estava na ficha de jogo. Isso resultou num processo disciplinar, mas a delegada foi fulcral para o desfecho deste processo.
Paulo Renato, presidente da ANDF que deu o mote do debate, comentou que entre jogadores de futebol, especialmente em clássicos como Benfica-Sporting, ainda não se sabe bem a importância do papel de um delegado. “Pode tratar-se de um Benfica-Sporting ou de um Salgueiros-Rio Tinto que para os jogadores é igual, mas dentro das diferentes entidades da Liga e da Federação Portuguesa de Futebol há cada vez mais reconhecimento”, e por essa razão, “na tomada de decisões, os delegados deveriam ter um lugar na Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Futebol”, à imagem do que sucede com outras associações de classe.