Sousa Tavares: “Vergonha perder por 4-1 contra um Benfica borrado de medo”
No seu espaço de opinião do diário desportivo Record, Miguel Sousa Tavares pronunciou-se sobre a pesada derrota do FC Porto na Luz diante do Benfica.
O comentador afeto aos dragões começou por acusar Vítor Bruno de deixar no ar a ideia de que o menor tempo de recuperação em comparação com os encarnados, como um dos fatores que explicaram este resultado.
No entanto, Sousa Tavares apresentou outros fatores bem mais graves.
“Ele, Vítor Bruno, diz que, pela primeira vez, sentiu a equipe cansada na segunda parte do desafio da Luz. Insinuava assim que o facto de ter tido um dia de descanso a menos entre os jogos europeus poderia ajudar a compreender o naufrágio desordenado da nau portista naqueles 45 minutos que os benfiquistas baptizaram de “históricos”.
Gostaria de concordar com ele, mas, infelizmente, não posso: de há muito que sinto a equipeacansada – em particular, no final dos jogos.
Esse déficite de preparação física da equipa, que já aqui tinha assinalado, anda, aliás, a par com outros déficites visíveis para quem conhece aqueles jogadores e aquele clube: um déficite de preparação psíquica para aguentar firme nos momentos decisivos; um déficite de preparação das bolas paradas, que chega a originar cobranças ridículas, como se viu em Roma; um déficite de treino do guarda-redes, que faz de Diogo Costa uma estátua de cera pregada à linha de golo; e, sobretudo, um déficite de motivação colectiva e individual que contraria todo o ADN da equipa.
Tudo isto acumulado, e não o cansaço, explica o desastre e a humilhação da Luz, em nada surpreendente para quem tem estado atento à evolução do FC Porto de Vítor Bruno”, começou por escrever.
Sousa Tavares debruçou-se sobre a escolha de André Villas-Boas em Vítor Bruno como sucessor de Sérgio Conceição. O comentador considera que ainda é cedo para o descartar mas alerta para os sinais alarmantes que a equipa vem apresentando, nomeadamente a incapacidade de se bater de igual para igual com equipas de maior valia.
“Sobre a escolha do sucessor de Sérgio Conceição, não tive opinião nem a favor nem contra.
Compreendi as razões da saída de Conceição, por ele próprio provocada, e compreendi bem a tentação e a solução Vítor Bruno: estava ali à mão, conhecia bem o clube e os jogadores que lá permaneceram, conhecia os métodos de trabalho existentes e era barato. Podia resultar ou não resultar: era esperar para ver.
Como os sportinguistas também não tardarão a perceber, promover à primeira linha um adjunto ou aprendiz que nunca treinou na primeira Liga, que nunca enfrentou os grandes clássicos contra os rivais e os grandes desafios europeus, é sempre uma carta em branco.
Passados 15 jogos oficiais, o que se pode dizer de Vítor Bruno é que é cedo de mais para o descartar sem apelo, mas não é cedo de mais para fazer soar as campainhas de alarme. Tirando o milagre da Supertaça – que nem ele nem ninguém conseguiu explicar – o FC Porto falhou em todas as chamadas importantes: em Alvalade e na Luz para a Liga, sem nunca ter disputado o resultado; na Noruega, com o Bodo Glimdt, onde o treinador fez alinhar meia reserva mostrando desconhecer por completo o adversário e alguns jogadores se exibiram como se fossem dar um show de passagem pelo Ártico; e contra o Manchester United e a Lazio, em que treinador e jogadores, não só tiveram medo de ganhar os jogos, como também não foram capazes de, ao menos, defenderem os pontos até ao apito final. Uma equipa que se quer grande e que em cinco jogos grandes perde quatro e se deixa empatar no último minuto do quinto, não vai a caminho de coisa alguma”, escreveu.
Sousa Tavares apresenta aquilo que, no seu entender, Vítor Bruno deve melhorar para a equipa render mais.
“Diz agora também Vítor Bruno que é preciso “reflexão”. Parece que nisso estamos todos de acordo e, para além do que já deixei refletido acima, acrescento mais umas pistas para eventual meditação de quem sabe.
Primeiro, o treinador tem de deixar de teimar nos seus protegidos e ostracizar os preteridos: antes foi o Otávio que só a muito custo e muitos sustos saíu da titularidade, agora é o Namaso, cuja utilidade só ele entende.
Mas há mais uma mão cheia deles sempre prontos e entrar e que mais valia estarem a ajudar a equipa B, também em vias de desastre anunciado: André Franco, Vasco Sousa, Grujic, Gonçalo Borges e Eustáquio (sim, Eustáquio, responsável pelo segundo golo do Benfica e mais).
E, já agora, Zé Pedro é melhor que Nehuan Pérez e não percebo porque saíu da equipa, e Rodrigo Mora merece muito mais do que o pouco que o treinador se digna dar-lhe. Na Luz, uma equipa sem adultos na sala e uma defesa, em minha opinião, prematuramente aliviada de Pepe, teria merecido reflexão sobre a imaturidade dos laterais face ao que iam ter pela frente: Martim e Moura são ambos bons jogadores ainda em construção, mas nunca tinham jogado um clássico na Luz e pagaram por isso: o primeiro foi devorado por Carreras, o segundo por Di María. Creio – mas é apenas um palpite – que João Mário e Zaidu, bem mais experientes, teriam feito melhor.
Mais reflexões: como tirar o melhor partido de Fábio Viera; como servir Samu na zona de finalização; como explicar a Diogo Costa que nas bolas altas na pequena área tem de mandar ele; treinar melhor as saídas de trás com bola para que não sejam apenas momentos inúteis ou de sobressalto; como ter um meio campo rotinado na função principal de abrir espaços na frente, servir o ataque e chegar à zona de remate; como posicionar os melhores rematadores na meia distância e fazer horas extraordinárias com eles até serem capazes de acertar pelo menos 70% dos remates na baliza; como treinar os livres laterais de forma simples e eficaz. E, enfim, eleger um patrão para uma equipa sem rei nem roque: sugiro o Fábio Vieira”, escreveu.
Por último o comentador portista defende que esta equipa é melhor que a do ano passado mas considera que era importante manter Pepe para garantir a coesão. Sousa Tavares lamenta o facto de esta vitória ter ajudado o Benfica a ultrapassar a derrota com o Bayern de Munique na Liga dos Campeões
“Mas insisto num ponto: esta equipa é melhor do que a do ano passado. É verdade que é muito jovem e é pena que tenha sido desconsiderado o contributo que Pepe ainda poderia dar para o seu entrosamento, mas se me parece impossível lutar pelo título, já nada justifica a vergonha que foi perder por 4-1 contra um Benfica que vimos em Munique borrado de medo. Ajudámos a levantá-los das cinzas e a afundarmo-nos nós nelas.
Há muito para reflectir e ainda mais para mudar”, concluiu.