Sporting

Rúben Amotim não esperava

A comunicação não se reduz ao que dizemos. Tudo em nós é uma mensagem. Os sinais que enviamos com a postura e gestos, o tom e a forma como falamos e até as atitudes e decisões que tomamos. Parece hoje inconcebível, à luz de que tudo o que sabemos e temos assistido desde que entrou pela primeira vez numa sala de Imprensa, que tenha sido precisamente aquele que consideramos um exemplo de extraordinária gestão comunicacional a cometer um erro deste tamanho.

 

O equívoco de Rúben Amorim pouco tem que ver com o seu direito, durante as folgas e autorizado pelo Sporting, a conversar com outro clube sobre o seu futuro e apontar a uma vida melhor, mas sim com o contexto que o envolve que, para bem e para o mal, é o futebol português.

 

Poucos poderão acusá-lo de falta de compromisso – algo que curiosamente se passou com Arne Slot, cada vez mais perto de lhe ganhar a corrida para Anfield, quando foi despedido do AZ por estar a negociar com o Feyenoord – e as reações têm ido ao encontro da ideia de que já fez o suficiente pelo clube e que está tudo bem. No entanto, neste mundo, ser apanhado publicamente (propositadamente ou não) num processo de negociação, com o campeonato por conquistar e antes de um clássico que ainda pode fazer abanar, ainda que dificilmente de forma definitiva, a equipa, cria sempre demasiado ruído à sua volta.

Estranhamente, a mensagem que tal viagem deixa é ainda contraproducente em relação àquela que tem passado antes e depois de cada jogo na caminhada para o título. Amorim não se tem cansado de dizer, e bem, que ainda não está feito, que os jogadores têm de continuar em alerta. Mesmo acreditando, e acredito, que a relação com os atletas que treina é muito boa, que terão estes pensado quando viram primeiro a fotografia ao lado do empresário a caminho do avião e depois as imagens do regresso? Só prova que não há quem tenha sempre as respostas certas e que todos cometemos erros.

 

Ontem, na sala de Imprensa e numa situação de gestão de crise, Rúben voltou a ser irrepreensível na tentativa de minimizar os estragos. Na verdade, não teve força suficiente para tirar o elefante da sala. Vai continuar por lá pelo menos até que o Marquês se encha de verde e branco ou talvez mesmo até que carimbe a dobradinha perante um FC Porto longe dos melhores tempos. Há essa oportunidade. Porque no jogo, e o jovem técnico sabe-o, a memória é curta, sobretudo quando as sensações não são as melhores. Só que nada mais podia fazer exceto assumir o erro e pedir desculpa, sobretudo aos jogadores, àqueles a que tem de dar o exemplo enquanto líder.

Podemos tentar, por fim, entender a precipitação, que até poderá nem estar diretamente relacionado com o West Ham, um histórico que anda logo do topo, e ser bluff, todavia, também aí terá corrido mal. É verdade que a oportunidade de sair em alta dá-lhe um poder negocial diferente e que mal conseguimos controlar a velocidade do nosso tempo quanto mais a dos outros, mas Amorim, tal como diz a canção, should have known better.

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