Perguntam o que se passa com o Geny Catamo, que marca sempre ao Benfica
É também por isto que o futebol é muito mais do que um jogo. Moçambique atravessa um período conturbado depois das eleições para a presidência da república. Daniel Chapo foi proclamado como vencedor, algo que não foi bem recebido pelos apoiantes de Venâncio Mondlane. Desde outubro, várias ruas moçambicanas são dominadas pelo caos, com barricadas, pilhagens e confrontos entre o povo e a polícia, que tem disparado sobre os manifestantes. Na última semana morreram 175 pessoas e em dois meses já foram declarados 277 óbitos; 586 indivíduos foram ainda baleados.
Ora, uma vez mais, o futebol serviu para atenuar a dor daqueles que não atravessam a melhor fase. Neste caso, os moçambicanos. Pela segunda vez consecutiva, Geny Catamo decidiu o dérbi entre o Sporting e o Benfica, em Alvalade para a liga, algo que fez sorrir, ainda que não por muito tempo, todos os moçambicanos. “Apesar da situação aqui em Moçambique, consegui ver o jogo. Estávamos todos na expetativa para saber se ele seria titular ou não. Felizmente foi e fez um grande jogo. É um conforto para todos os moçambicanos, mesmo os benfiquistas. Não se fala de mais nada aqui. Perguntam o que se passa com o Geny Catamo, que marca sempre ao Benfica. Se não fosse moçambicano… Foi uma vitória importante para o Sporting depois da saída do Amorim e do João Pereira”, afirmou Paíto, antigo jogador do Sporting e atual vice-presidente da federação moçambicana de futebol a O JOGO.
Já Chiquinho Conde, selecionador de Moçambique, revelou-nos que viu o jogo em casa com o filho e que ficou satisfeito com a exibição do seu jogador. “Vi o dérbi em casa com o meu filho e achei fantástica a exibição do coletivo do Sporting e do Geny Catamo, a nível individual. Sobressaiu nos primeiros 45 minutos, houve uma ligeira oscilação nos primeiros minutos da segunda parte, mas depois teve alguns rasgos individuais que podiam ter culminado no segundo golo. No cômputo geral, teve uma boa performance.”
Como disse um dia Arrigo Sacchi, o futebol, por vezes, é mesmo a coisa mais importante entre as coisas menos importantes da vida.
“Marcam sempre” ao Benfica, diz Paíto
Paíto jogou, além do Sporting, no V. Guimarães e no Braga em Portugal. Ainda assim, o ex-defesa-esquerdo é, sobretudo, lembrado por um golaço ao Benfica, nos “oitavos” da Taça de Portugal, em 2005, ao serviço dos leões. Em jeito de brincadeira, o agora dirigente da federação moçambicana admitiu que há muitos moçambicanos a marcarem às águias. “O Geny está melhor do que eu! Foi decisivo no jogo do ano passado, que praticamente deu o título ao Sporting. O melhor jogador da história do Benfica é moçambicano [Eusébio], mas agora todos os moçambicanos marcam ao Benfica. Não sei o que se passa…”