É difícil comparar com o que aconteceu no Sporting, é mais complicado.
É simultaneamente uma sorte e uma maldição. O complexo e carregado calendário do futebol europeu faz com que as equipas não tenham grande tempo para descansar, com jogos de três em três dias, mas também faz com que as equipas não tenham grande tempo para lamentar eventuais desaires. O Manchester United não foi além de um empate na estreia de Ruben Amorim, em casa do Ipswich, mas esta quarta-feira o treinador português já realizava a conferência de imprensa do encontro seguinte.
Depois dos dois pontos desperdiçados no domingo, os red devils recebem o Bodø/Glimt já na quinta-feira, em Old Trafford, naquela que será a estreia de Ruben Amorim no estádio do Manchester United. Os ingleses têm atualmente seis pontos em quatro jornadas da Liga Europa, com três empates e uma vitória, e estão na zona de apuramento para o playoff de acesso aos oitavos de final da competição. Vencer os noruegueses, portanto, é um elemento crucial para manter a equipa bem dentro do futuro europeu.
Ruben Amorim teve uma boa notícia ainda antes da conferência de imprensa, já que Lisandro Martínez e Harry Maguire treinaram na manhã desta quarta-feira e estão reintegrados depois de ultrapassados os respetivos problemas físicos. Ainda assim, em Carrington, o treinador português explicou que só o argentino estará disponível para o jogo com o Bodø/Glimt, com o inglês a manter-se de fora.
Na conferência de imprensa, o treinador reconheceu que “toda a gente” lhe disse que a estreia em Old Trafford será “especial”. “Eu só quero ganhar. Antes do jogo, vai ser uma sensação diferente, mas depois do apito vai ser só mais um jogo e queremos ganhar”, começou por dizer, confirmando depois que irá fazer alguma gestão do plantel. “Temos de o fazer, especialmente nesta altura. Temos muitos jogos e estamos no início de algo. Todos têm de sentir que são parte da equipa. Vamos fazer a rotação de forma a ganhar todos os jogos. Precisamos de ter uma ideia clara de como jogar e todos têm de estar na mesma página”, explicou.
Na mesma linha de pensamento, Amorim garantiu que não está preocupado com a possibilidade de os jogadores ficarem “separados” se rodar muito a equipa. “Já estão separados. Se o Bruno jogar amanhã não pode treinar durante dois dias. Mesmo no dia antes do próximo jogo ainda não pode, só lentamente. Alguns jogadores que não vão jogar conseguem ter um treino a sério no dia seguinte. Alguns vão jogar, outros vão treinar melhor e no próximo jogo vamos rodar isso”, indicou.
Sobre a polémica que envolveu Ed Sheeran — sócio minoritário do Ipswich que interrompeu uma entrevista do português à Sky Sports e acabou por pedir desculpa –, Ruben Amorim não quis adiantar-se muito mais. “Em Portugal é muito diferente. Foi uma coisa normal, para mim não foi nada. Queria dizer olá ao Roy Keane e ele é uma grande estrela naquele painel”, atirou. Em seguida, disse não saber quanto tempo é que os jogadores vão demorar a adaptar-se às suas ideias.
“É difícil comparar ao que aconteceu no Sporting. Aqui a liga é diferente, é mais complicada. Mas também tenho jogadores com mais experiência. São jogadores internacionais, que só precisam de confiança. Não sei como responder a essa pergunta agora. Mas sei que, com a quantidade de jogos, vai ser difícil para mim e ainda mais para eles. Estão no campo e vão sofrer e eu vou tentar ajudar”, afirmou, antes de garantir que não ficou “surpreendido” com o facto de a equipa não ter assimilado de imediato o novo sistema.
“São ideias diferentes. Quando falo de alguns jogadores estou apenas a explicar algo e preciso de usar os nomes dos jogadores para isso. Não sinto que o Jonny Evans estivesse confuso, às vezes é difícil. Não tem a ver com os jogadores, tem a ver comigo. Mas estão a melhorar, fizeram coisas que me deixaram feliz, mas temos de melhorar. Claro que vamos ter de alterar o sistema às vezes, temos de o fazer. Quando falo da nossa estrutura acredito que podemos jogar em vários sistemas. Defendemos mais em 4x4x2 contra o Ipswich. Hoje em dia todas as equipas mudam as dinâmicas. Acho que o poder desta estrutura é a capacidade de mudar a meio do jogo”, acrescentou.
Ao lado de Ruben Amorim, na conferência de imprensa, estava também Bruno Fernandes. O internacional português lembrou que quando existe uma mudança de treinador a meio da temporada é porque “as coisas não estão a correr bem” e “a culpa é de todos”. “Temos sempre de nos adaptar a ideias diferentes, sistemas diferentes, coisas diferentes com bola e sem bola. Não é difícil para mim essa adaptação. No treino tento absorver tudo. Claro que não é possível absorver tudo, mas tento compreender o jogo. Sendo o capitão, a mensagem às vezes pode ser para mim e depois preciso de a passar aos companheiros. É um pouco esse o meu trabalho”, disse o médio.