Portugal é favorito no Mundial

Fez bem Pedro Proença em não vir com aquele discurso insonso do somos candidatos mas não favoritos, que já farta e não motiva ninguém, a começar pelos jogadores… Este é o ‘Nunca mais é sábado’, espaço de opinião de Nuno Raposo
Estamos muito crentes que, se ganharmos à Hungria, damos um passo fundamental para o nosso objetivo, que é estar nos EUA. E como já disse, temos grande vontade de sermos campeões do Mundo e há que assumi-lo. Com esta geração de jogadores e com a estrutura que a Federação tem, temos de ser ambiciosos. Queremos obviamente conquistar coisas boas.»
Como disse Pedro Proença, ganhar na Hungria era passo fundamental para chegar ao Mundial, um passo importante numa caminhada que, porém, ninguém acreditaria que não fosse para alcançar o destino como numa etapa a rolar de uma qualquer volta do pedal. Tendo em conta o grupo, e tendo em conta a duração da caminhada em período inicial da temporada, pode exigir-se não apenas a qualificação como deve exigir-se que sem máquinas de calcular outrora tão necessárias e, mais ainda, pode até pedir-se um percurso 100 por cento vitorioso, uma espécie de cartão de apresentação imaculado na entrada na maior competição de seleções, onde também teremos o estatuto da equipa vencedora da última Liga das Nações da UEFA.
Até agora, com menor (5-0 na Arménia) ou maior (3-2 na Hungria) dificuldade, o desafio está assumido e até ver cumprido. Novidade e muito bom sinal é o discurso ambicioso que esta Seleção Nacional passou a ter, como mostram as palavras do presidente da Federação Portuguesa de Futebol no arranque da jornada a caminho do Canadá, dos Estados Unidos e do México. Assumir com clareza, sem receios ou meias palavras, o objetivo de ir à América do Norte e vir de lá com o título de campeão do Mundo é muito bom sinal e mensagem clara para uma equipa que no passado, com grande qualidade individual também, acabou por sair do grande palco, fosse mundial ou europeu, com a sensação de que ficou aquém do que se esperava e podia efetivamente fazer. E tenho para mim que ser comedido a assumir a ambição teve nos falhanços papel importante, porque saímos de prova com a certeza de que se podia ter ido mais além e eu com a sensação de que não se foi porque o discurso não motivou para uma força efetiva de vencer. Saímos mais cedo de cena e parece que não houve problema algum com isso, que a convicção de que podíamos
ter conquistado o título nunca fez realmente parte da alma da equipa, algo que houve, por exemplo, em 2016…
Por isso fez bem Pedro Proença em não vir com aquele discurso insonso do somos candidatos mas não favoritos, que já farta e não motiva ninguém, a começar por quem mais interessa: os jogadores. Porque com estes, com esta equipa, Portugal não se pode apresentar no Mundial apenas como um candidato: tem de assumir-se como favorito, ou um dos um dos favoritos. A não ser que o selecionador invente quando não tem nada para inventar…
Roberto Martínez, também ele, entra nesta nova etapa mundial da Seleção Nacional com o crédito de que nunca dispôs no passado e que até teve perto de perder por completo à entrada para a final four da Liga das Nações. A vitória na prova devolveu-lhe a cor à barra de confiança e até e sobretudo o apoio dos jogadores. Mais um fator de harmonia que em poucas ocasiões acontece e que Portugal tem de saber aproveitar e canalizar para um objetivo assumido e que faria certamente justiça não apenas a uma Seleção que sonha mas também a um capitão que merece, aos 40 anos, uma saída em grande com o maior de todos os títulos.