Se o problema do Benfica fosse só o treinador
O que vai mudar no Benfica com a troca de Roger Schmidt por Bruno Lage? A pergunta, que andará a esvoaçar na mente dos adeptos encarnados, é de difícil resposta. O tempo, naturalmente, ajudará a clarificar e a esclarecer as dúvidas, mesmo sabendo-se que tempo é um luxo a que determinados clubes não se podem dar. É o caso.
Quatro anos depois, o técnico está de volta à casa onde viveu não só a doce glória da conquista do 38.º título das águias em 2018/2019, mas também onde viveu o amargo sabor da derrota e do despedimento na época seguinte; a casa onde lançou miúdos que conhecia bem da formação, como João Félix (que viria a ser a mais alta transferência do futebol português, quando saiu por 126 milhões de euros para o Atlético Madrid), Florentino ou Ferro, mas igualmente onde, quando as coisas correram mal, fez uso da arma cobarde do ataque aos jornalistas, acusando-os de estarem a ser pagos (almoços, jantares, viagens) para estenderem a passadeira vermelha ao seu alegado substituto.
(Detenho-me, por instantes, neste ponto, para mencionar a feliz coincidência de, três dias antes da sua apresentação, terem surgido em diferentes órgãos de informação diversas entrevistas de antigos jogadores a elogiarem Bruno Lage, destacando-se Grimaldo, Félix, Rafa e Pizzi, quatro nomes que ou são ou já foram representados por Jorge Mendes, curiosamente o representante de Lage. Coincidências.)
Mas, voltemos ao tema: a chegada de Bruno Lage vai resolver os problemas do Benfica? A resposta seria «sim» se o problema do Benfica fosse o treinador. Obviamente, a situação tinha-se tornado insustentável para Roger Schmidt, o técnico alemão que deslumbrou Rui Costa ao ponto de ver o contrato renovado ainda antes do fim do primeiro ano e que, ao longo do segundo, passou do 80 da idolatria ao 8 dos mal-amados. No início da terceira época, com mais do mesmo, ficou evidente que a teimosia de mantê-lo foi um erro de gestão por parte do presidente encarnado, numa bola de neve que culminou no péssimo timing da mudança, já com o mercado fechado (e marcado por movimentações muito difíceis de explicar) e, portanto, com o novo treinador a ter de conviver com as escolhas de outro(s).
Sim, Schmidt era um problema, mas era apenas uma pequena parte do problema maior e que muitos adeptos identificam como estando na direção de Rui Costa, já várias vezes alvo de sonoras assobiadelas na Luz.
Concluíndo: tendo em conta os ventos fortes que sopram na Luz e com o fantasma de eleições antecipadas cada vez mais à vista, ao contrário do que sucedeu na primeira passagem de Bruno Lage desta vez a tolerância será zero. E isso nunca pode ser bom para quem está a recomeçar.
P. S.: Ronaldo chegou aos 900 golos. Incrível! E diz que só pára nos 1000. E que deixa a Seleção e o futebol quando bem entender. E é aqui que nasce um paradoxo: os que, interna ou externamente, desejam vê-lo fora da equipa das quinas têm agora de desejar que tenha muito sucesso… na equipa das quinas e em tudo o apoiarão para que marque muitos golos e rapidamente chega ao milhar com que encerrará (será?) a estratosférica e soberba carreira…